As almas.

A canga estava estendida sobre a grama. Nela havia flores, um sol, a lua, mochilas e duas almas livres.
Livres, sim, não poderiam estar mais! Conversavam abraçadas, com toda a intimidade que nunca tiveram, e sem malícia alguma.
Risadas, cafunés, lembranças, olhares. Coisas pequenas que diziam tudo o que ficou oculto durante dois anos. O oculto foi mandado de volta ao universo e, em troca, veio a paz, o entendimento, o amor. Mãos uniram-se e a confiança foi reestabelecida. Nada de mal poderia acontecer, nunca.
Naquele momento, todas as vendas foram retiradas. Poderiam tentar vendar aquelas almas irmãs novamente, mas a imagem do mundo real nunca mais sairia de suas mentes. Todas as cores, cheiros sons... Cada nuance da vida.Tinham a consciência de que jamais seriam as mesmas.
Olharam para o céu e ele olhou de volta, sorrindo. O vento soprava em uma brisa suave. Brincava com seus corpos, também sorria.
 Acharam tintas, pintaram-se. Pessoas olhavam com estranhamento, mas aquilo não importava. NADA importava, apenas o momento, especial e único. Queriam poder compartilhar um décimo do que sentiam com aquelas pessoas. Talvez assim elas entendessem, e tudo ficaria melhor para todos.
Explodiam em felicidade e entendimento. Naquele momento, aquelas almas eram o amor em seu estado mais puro.
Ainda assim, eram consideradas loucas. Isso também não importava, pois sabiam a realidade. Talvez aqueles que se consideram "lúcidos" não entenderiam, tinham quase certeza disso.
Dentro de si, aquelas duas almas sabiam que eram as mais lúcidas daquele lugar. Podiam ser tudo o que desejassem ser.
Eram lembranças, pureza, liberdade, risadas, amor. Não eram mais pessoas.
Eram apenas almas.